MAINUMI IMAGEM

COMUNICAÇÃO LIVRE: AUTÔNOMA, NÔMADE E AMBULANTE

sábado, 28 de abril de 2012

POVO AWA: A ODISSÉIA DOS GUARDIÕES DA AMAZÔNIA

O MARANHÃO É UM ESTADO DIVERSO: FRONTEIRA ENTRE A AMAZÔNIA E O NORDESTE BRASILEIRO, A TERRA DAS PALMEIRAS TEM A CAPITAL FUNDADA POR FRANCESES; UMA CULTURA COM FORTE INFLUÊNCIA DOS NEGROS AFRICANOS; OS LENÇOES MARANHENSES, ROTEIRO CARIMBADO DO TURISMO INTERNACIONAL, É UM PATRIMÔNIO MUNDIAL TOMBADO PELA UNESCO. UM EMARANHADO DE SEGREDOS...MATA ADENTRO, SE REVELAM OUTROS SEGREDOS...O MARANHÃO INDÍGENA.
O ESTADO POSSUI UMA POPULAÇÃO INDÍGENA ESTIMADA EM MAIS DE 15 MIL PESSOAS. DESSAS, 400 SÃO DO POVO AWÁ-GUAJÁ QUE VIVEM EM TRÊS TERRAS INDÍGENAS, DEMARCADAS E HOMOLOGADAS, ENTRETANTO, NÃO LIVRE DE AMEAÇAS.NO SEIO DA AMAZÔNIA MARANHENSE GRUPOS AWÁ REJEITAM O CONTATO, VIVENDO LIVRES NA MATA. OS AWÁ SÃO CONSIDERADOS UM DOS ÚLTIMOS POVOS NÔMADES DO MUNDO. A AMEAÇA AOS AWÁ ISOLADOS É MASSIVA E INTERMITENTE, ESTÃO EM CONSTANTE FUGA, ACOSSADOS PELOS MADEIREIROS E CAÇADORES, CERCADOS PELO AGRONEGÓCIO, OS AWÁ RESISTEM E SOBREVIVEM.
O POVO AWÁ TEM O SEU TERRITÓRIO ATRAVESSADO PELA ESTRADA DE FERRO CARAJÁS, DA ANTIGA VALE DO RIO DOCE. DEPOIS QUE O MINÉRIO É SUGADO NA SERRA DO PARÁ, O TRANSPORTE É FEITO PELA FERROVIA ATÉ O PORTO DO ITAQUI, EM SÃO LUÍS DO MARANHÃO. A FERROVIA TRAZ INUMEROS PREJUÍZOS AOS AWÁ ALDEADOS. AFASTANDO A CAÇA E OFERECENDO PERIGO REAL TANTO PARA INDÍGENAS, QUANTO PARA OS MORADORES DOS POVOADOS. A VALE REPASSA À FUNAI UMA AJUDA DE CUSTO REFERENTE À CONSTRUÇÃO DA ESTRADA. OS AWÁ NÃO TEM NENHUM ACESSO AO RECURSO. O GOVERNO BRASILEIRO TAMBÉM CONTRIBUE COM O GENOCÍDIO DESSE POVO. A PECUÁRIA DOS GRANDES LATIFUNDIÁRIOS, O EUCALIPTO DAS SIDERÚRGICAS, A SOJA DOS ESTRANGEIROS, DIVERSOS EMPREENDIMENTOS NA REGIÃO SÃO PRATROCINADOS PELO BNDES.
O LUCRATIVO NEGÓCIO DA MADEIRA ILEGAL É UMA GRANDE AMEAÇA AOS POVOS INDÍGENAS NO MARANHÃO. O ESTADO É O CAMPEÃO NO RANKING DE DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA. CERCA DE 90% DA MADEIRA VENDIDA NO MERCADO É ILEGAL, RETIRADA DE TERRAS INDÍGENAS E RESERVAS FLORESTAIS. A FUNAI POSSUI UM RELATÓRIO DO FINAL DO ANO PASSADO, REVELANDO QUE 30% DA TERRA INDÍGENA AWÁ É INVADIDA PELAS PRÁTICAS CRIMINOSAS DO AGRONEGÓCIO.
A FALTA DE FISCALIZAÇÃO, COMBATE E PRISÃO DAS QUADRILHAS MADEIREIRAS INCENTIVA A DEVASTAÇÃO. A IMPUNIDADE CRIA UM ESTADO PARALELO, UMA TERRA SEM LEI, COMANDADA À MÃO DE FERRO PELOS DONOS DAS SERRARIAS NA REGIÃO. NAS CIDADES DE BOM JESUS DAS SELVAS, ARAME, ZÉ DOCA, MARACAÇUME, ENTRE OUTRAS, OS MADEIREIROS IMPÕEM SUAS DECISÕES. EM 2007, INCENDIARAM A DELEGACIA DA CIDADE DE BURITICUPU, ENTERDITARAM A BR 222 E PUSERAM A POLICIA FEDERAL PARA CORRER, EM PROTESTO CONTRA UMA RARA OPERAÇÃO CONJUNTA DE COMBATE A EXTRAÇÃO DE MADEIRA ILEGAL NA TERRA INDÍGENA ARARIBÓIA. O VERGONHOSO RESULTADO DA OPERAÇÃO: FOI APREENDIDO APENAS UM CAMINHÃO MADEIREIRO QUE FICOU EXPOSTO DURANTE MESES NA PORTA DA ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DA FUNAI EM IMPERATRIZ (MA).
NA TERRA INDÍGENA ARARIBÓIA, TERRITÓRIO DO POVO GUAJAJARA, EXISTEM RELATOS DA PRESENÇA DE GRUPOS AWÁ. CONSTANTEMENTE CAÇADORES GUAJAJARA, PERAMBULANDO PELA MATA, SE DEPARAM COM OS AWA. FAMÍLIAS INTEIRAS, HOMENS, MULHERES, IDOSOS E CRIANÇAS, QUE FOGEM AOS GRITOS ASSUSTADOS, RENUNCIANDO QUALQUER TIPO DE CONTATO. OS AWÁ LIVRES TAMBÉM CIRCULAM PELA RESERVA BIOLÓGICA DO GURUPI, NA TERRA INDÍGENA KRIKATI, NA SERRA DO CIPÓ, NO ALTO GUAMÁ, NA SERRA DA DESORDEM, JARARACA E BANDEIRA. A TERRA INDÍGENA AWÁ É UM CASO EMBLEMÁTICO A SER RESOLVIDO EM DECORRÊNCIA DA INVASÃO POR OCUPANTES DE MÁ FÉ, GRUPOS ECONÔMICOS E POLÍTICOS DA REGIÃO. O PROCESSO DE RECONHECIMENTO DA TERRA TEVE INÍCIO EM 1979 E SÓ FOI HOMOLOGADA EM 2005. NO ENTANTO, ATÉ O MOMENTO NÃO FOI REGISTRADA POR CONTA DE PENDÊNCIAS JUDICIAIS IMPETRADAS POR GRUPOS ECONÔMICOS QUE CONTESTAM A HOMOLOGAÇÃO.
EM AGOSTO DE 2010 OS AWÁ FIZERAM UM GRANDE ENCONTRO ENTRE O POVO, O “ACAMPAMENTO NÓS EXISTIMOS”, REALIZADO NA CIDADE DE ZÉ DOCA, ONDE O PREFEITO QUESTIONAVA A EXISTÊNCIA DOS AWÁ NA REGIÃO. O ACAMPAMENTO FOI OPORTUNO E NECESSÁRIO PARA COMPREENDER E APOIAR A LUTA DESSE POVO PELA GARANTIA E PROTEÇÃO DE SUAS TERRAS. A ONG SURVIVAL INTERNATIONAL LANÇOU UMA NOVA CAMPANHA PARA ATRAIR A ATENÇÃO MUNDIAL ÀS AMEAÇAS QUE O POVO AWÁ VEM SOFRENDO AO LONGO DOS TEMPOS DE CONTATO. http://www.survivalinternational.org/pt/awa
“Em busca de aliados, o povo Awa sai da mata e com a cantoria dos karawaras, viajam para o céu e descobrem do alto um novo horizonte de destruição e aterrissam de volta com o grito: “Nós existimos”. Texto e Foto: Diego Janatã www.mainumiimagem.blogspot.com.br MAIS INFORMAÇÕES: AWA KAHAPARA: À VIDA AWÁ http://www.youtube.com/watch?v=ERjRhybhBM4 Direção: Humberto Capucci e Diego Janatã Realização: CIMI Maranhão Produção: Café Cuxá filmes "Awáka'apará" é um documentário que denuncia, em pleno século XXI, o risco de extinção de mais um povo indígena brasileiro. Awá ka'apará, na língua Awá, significa, literalmente, Awá que vive na mata: os Awá (regionalmente conhecidos como Guajá) são tradicionalmente caçadores e coletores e andam pela floresta, da qual dependem inteiramente. Mais recentemente (década de 1970), grupos Awá começaram a ser fixados pela FUNAI, em torno de alguns de seus Postos Indígenas no Maranhão, e ali passaram a praticar uma agricultura de subsistência. Isoladas, entretanto, no que resta de mata da Terra Indígena Araribóia e de algumas outras terras indígenas no Maranhão, cerca de 90 pessoas Awá ainda vivem em fuga. Porque a vida delas vale menos que o "progresso".

sábado, 10 de março de 2012

YANOMAMI: OS FILHOS DE HORONAMI



Terra Indígena Yanomami – Amazônia Brasileira, de 22 a 28 de novembro cerca de 100 lideranças indígenas do povo Yanomami de diversos xaponos do Amazonas, estiveram reunidas para debater e encontrar soluções referentes às diversos temas que preocupam o povo. A II Assembleia dos Yanomami do Amazonas, aconteceu no Xapono Bicho-Açu, no Rio Maraiuá, no município de Santa Isabel do Rio Negro. A assembleia foi uma verdadeira confraternização, marca da expressiva cultura desse povo de recente contato, com uma história de luta e resistência, exemplo para todos os povos. Awei Parente!!

Um grande ritual marcou a abertura do evento. O Praiai é uma manifestação aonde os visitantes e anfitriões se apresentam, correndo no pátio central, em volta da aldeia, exibindo para os moradores e para si, suas armas, pinturas e, sobretudo, coragem. Em seguida, acalmado os ânimos, os principais Tuxauas e lideranças Yanomami fizeram o Wayamou, uma conversa ritmada em língua materna que narra as notícias das diversas comunidades que participam da Assembleia.

O povo Yanomami se diferencia substancialmente dos demais povos indígenas da América do Sul. Linguisticamente se divide em quatro grupos: Sanumá, Yanomami, Ninam e Ajarani / Yanomae.

Mesmo semi-nômades no seu Wayumi Rokei, atividade de deslocamento coletivo, em acampamentos de verão, praticam a agricultura de coivara, caracterizada pela derrubada, queima e plantio, também conhecida em algumas regiões como Roça de Toco. Habitantes de uma região de serras ao norte da Floresta Amazônica, divisa com a Venezuela, cobiçada por pescadores, caçadores, garimpeiros e extratores de piaçaba e cipó Titica.

No lado brasileiro, o território Yanomami, com uma extensão de 9.664.980 km se espalha pelos Estados do Amazonas e de Roraima, formando a sétima maior população indígena do país, com cerca quase 20.000 indivíduos, distribuídos em mais de 200 comunidades.



A ASSEMBLEIA DOS YANOMAMI – Surgiu como uma iniciativa do povo Yanomami do Amazonas, especialmente do Rio Marauiá, em parceira com organizações não governamentais que atuam na área. A assembleia veio com o intuito de marcar um posicionamento Yanomami diante de questões muito sérias como a reestruturação da FUNAI, o atendimento à Saúde Indígena e a FLONA em sua sobreposição ao território indígena.

Após ser dado início à Assembleia, foi discutida a pauta, na qual a primeira demanda foi sobre a educação, com a participação dos convidados da SEDUC – Secretaria Estadual de Educação, Missão Salesiana, Novas Tribos, Rios Profundos e Secoya – Serviço e Cooperação com o Povo Yanomami.

Os responsáveis pelas organizações puderam falar a respeito dos trabalhos desenvolvidos em parceria com o povo Yanomami. Muitas queixas foram feitas à SEDUC, pela falta de reconhecimento da Escola Yanoamami, baseada no processo de educação escolar diferenciada, além da falta de material e merenda escolar. Para a liderança maior do povo Yanomami, Davi Kopenawa, a escola é importante para aprendermos mecanismos que possam denunciar as invasões ao Território Yanomami. “Quando era criança não estudei, ia caçar. Hoje, a escola existe. O governo não aparece. Apesar de 3 poderes em Brasília, eles não respondem. Nós aprendemos português. Yanomami querem escola, mas o governo não responde, engana. Apesar de haver escolas, são podres, não chega merenda, apesar de se chamar escola, em muitos xapono a escola é ruim. N.ós lutamos muito, temos de falar muito, o governo não escuta, não responde. Nós queremos escola para defender nossa floresta, nossa língua, nossa cultura”, disse.

A referência de aprendizado para o povo Yanomami ultrapassa as paredes de uma escola formal. O aprendizado é imaterial, e segue uma dinâmica natural. O irmão mais velho ensina o irmão mais novo como saber viver. As lideranças atuam para que o Estado brasileiro garanta o que é de direito para todos os povos, uma educação digna, específica e diferenciada, que possa atender os anseios dos Yanomami, nessa relação com a sociedade nacional.

De acordo com o professor Py Daniel do Instituto de Pesquisas da Amazônia, INPA, “a educação indígena é algo que ocorre naturalmente na sociedade, opondo ao termo educação escolar indígena que seria o modelo educacional, onde a escola padrão é adequada à realidade indígena. Não existe essa oposição entre os termos. Exemplificando, sol e lua fazem parte de um sistema solar e não se opõem, assim é a educação a partir destes termos”.

A SECOYA desenvolve um trabalho de educação junto aos professores Yanomami. Atua na região desde o início dos anos 90, no campo da saúde, educação diferenciada, desenvolvimento sustentável e apoio ao processo organizativo do povo Yanomami.

Para Silvio Cavuscens, coordenador geral da entidade, através da educação um povo constrói sua história e o trabalho do governo é viabilizar a escola indígena Yanomami conforme eles próprios assim a desejarem. “No Brasil durante muito tempo o governo não se preocupou com a possibilidade do povo indígena ter uma escola diferenciada. Com a luta dos povos indígenas, em 1988 pela Constituição Brasileira, esta realidade mudou. Então pela primeira vez o povo indígena tem o direito de construir seus conceitos próprios, sua escola própria.

Segundo ele, a educação diferenciada não deve ser uma escola rural maquiada de umas “pinceladas” de cultura indígena. Ao contrario, é o direito dos povos indígenas expressarem sua cultura. “O Estado e o Governo Federal tem a obrigação de trabalharem para reconhecer a escola diferenciada indígena nos moldes que os indígenas querem. O problema no Brasil é que muitas vezes a lei não está devidamente aplicada”, denunciou.

A vida no Xapono - Enquanto a assembleia seguia com a legitimidade dos depoimentos, a vida no xapono continuava quase que inabalável. As crianças com seu ofício de brincar - vez por outra desligavam o gerador da Assembleia - as mulheres sempre atarefadas corriam com seus pacarás na cabeça, cheios de mandioca, pupunha e açaí, quando não, estavam compenetradas na arte de fazer cestaria.

Enquanto isso, os pajés, os grandes detentores dos segredos do Paricá, praticavam seus rituais de cura em pleno calor Amazônico. “O poder da floresta inalado é o caminho para novos ensinamentos, diz Mateus Yanomami, enquanto preparava mais uma generosa porção para seu uso.

Shhhhi, toó ! Lá vai Mateus, para o pátio do Xapono, com as mãos voltadas para cima fazendo sua oração para Omama, o deus criador.

FLORESTA NACIONAL DO AMAZONAS - Na assembleia também foi discutida a questão da Floresta Nacional do Amazonas, uma unidade de conservação ambiental e manejo, em sobreposição à Área Indígena. A grande questão da FLONA é que ela abre espaço para atividades produtivas e extração de produtos da floresta, o que contraria os princípios de preservação.

Cerca de 96% da FLONA está dentro do Território Yanomami. Para as lideranças presentes, a criação de um conselho que regulamente a criação e implementação da FLONA deve ser combatido, tendo em vista que a FLONA abre espaço para a intervenção de não indígenas na gestão desse território. “Criar novamente a Flona na nossa terra não é bom. ICMBio deixa bem claro para nós que não está respeitando nossa terra Yanomami. Quando reconhecerem era o dever deles. Os garimpeiros mataram 16 Yanomami, isso me revoltou. Eu era amigo do Chico Mendes. O governo sempre mexe conosco. Já houve muitas lutas, sofri, apanhei com as autoridades, faziam promessas. Por isso eu sou contra a existência da Flona. A FLONA não vai proteger nada, vai criar problemas. O ICMBio tem que consultar a COIAB, ISA, Yanomami, Hutukara, AYRKA, FOIRN para que possamos acreditar. Somos já velhos, não somos pedras, nossa vida é curta. Vocês voltam para Brasília, fazer no jornal oficial, mandar convites para as organizações e sentar junto com FUNAI. Nossa vida vale mais que ouro, que o dinheiro”, afirmou Davi Kopenawa.

SAÚDE INDÍGENA - A precariedade no atendimento à saúde indígena é uma realidade comum aos diversos xaponos da região. O agravamento dos indicadores de saúde com o aumento da malária, infecções respiratórias agudas, problemas de pele, uma água comprometida por não haver poços artesianos, aumentaram o número de óbitos. A falta de estrutura dos postos de saúde, o despreparo dos profissionais, a ausência de medicamentos e instrumentos específicos contribui para um quadro muito preocupante que está instalada a SESAI. As lideranças deixaram claro, em documento, o desejo em criar um subdistrito de saúde que possa atender exclusivamente os Yanomami do Amazonas. Hoje o atendimento do DSEI-Y é vinculado à administração em Roraima. As lideranças destacaram que um subdistrito deve ser instalado na cidade de Santa Isabel do Rio Negro. “Ficaremos satisfeitos se nossa reinvindicação for atendida, esperamos que a SESAI possa nos atender. A SESAI precisa está mais perto dos Yanomami para saber das nossas dificuldades”, afirmou a liderança Julião Yanomami, da comunidade do Kumixipywei.

“Não tenho medo de falar, sou tuxaua de Ixima. Os profissionais não vêm até o xapono. Não tem técnico no posto de Saúde. Não gostam de nós. Não manda doutor, dentista e ficamos sem condições. Existe somente o nome SESAI. Não manda remédios regularmente e as crianças ficam doentes sem condições de boa saúde. O bote da SESAI sempre passa direto sem parar. Eu quase quebro o bote deles. Por causa disso, não tenho medo do pessoal da saúde, vou prender motor e voltarão beirando. Nós tuxauas não podemos ter medo e podemos falar de perto. Eu vejo no fundo do pensamento do SESAI: “A gente não vai fazer nada”. Então estou com vontade de bater neles”, protestou o Tuxaua Mário, liderança tradicional da comunidade Ixima. Na oportunidade foi confirmado o nome de Otávio do Bicho-Açu para Conselheiro do CONDISI, com indicações para ocupar a presidência, e também foi escolhido para a vaga de suplente pelo rio Marauiá, Soriano Yanomami da comunidade Balaio, eleito por unanimidade.

FUNAI E A FRENTE DE PROTEÇÃO – Os Yanomami tem um contato com a sociedade nacional muito recente. Há cerca de 60 anos atrás, esse povo vivia livre, autônomo, dependendo única e exclusivamente da Grande Mãe Amazônia. O recente contato forçou que o órgão indigenista oficial, a FUNAI, adotasse um posicionamento diferenciado com relação a esse povo. Por isso foi criado a Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami, para lidar exclusivamente com as demandas desse povo. Na ocasião, um funcionário da FUNAI de São Gabriel da Cachoeira, Luiz Pereira, explicou um pouco mais sobre o processo das CTL’s, e como a FUNAI vem desenvolvendo o seu papel na região. É claro, sobre muito descontentamento da grande maioria dos presentes. Segundo o servidor, “Há 3 ou 4 anos a FUNAI está passando por uma reestruturação. Significa mudanças. É como se a FUNAI estivesse dormindo e de repente acordou. Seu pensamento também mudou”.

Sobre a FUNAI os Yanomami fizeram muitos questionamentos, em especial, sobre a criação de uma sede, uma casa de apoio em Santa Isabel do Rio Negro, tem em vista as dificuldades de deslocamento até a FUNAI de São Gabriel da Cachoeira. “Nova Funai chegou à nossa assembleia. Nós somos Yanomami do Marauiá que andamos em Santa Isabel. Onde dormimos ficamos com medo. Não é nossa casa. Os pescadores trabalham perto e dizem que atrapalhamos. Como pensa Funai sobre nós? Por que vocês deixam sofrer os Yanomami?” perguntou Jorge, liderança do Kona.

Um caso muito importante também foi apresentado na assembleia. Os participantes puderam conhecer o drama dos Yanomami do Momohiteri, um grupo que vive em situação de isolamento na Amazônia Venezuelana. São parentes do grupo Kona, que vive nas cabeceiras do Marauiá, os quatro Momohiteri presentes, desejam vi morar perto do rio, fugindo das doenças e do isolamento das montanhas que é a morada dos espíritos, como eles acreditam. Em um discurso muito emocionado, Roni comoveu a Assembleia, em um momento de reflexão lembrando a verdadeira peregrinação do povo Yanomami em busca de melhores condições. Apesar de quererem ficar na floresta, reconhecem que o isolamento já não é tão bom, pois a doença do homem branco já chegou. E quando retornarem para casa, os Momohiteri, possivelmente, podem levar a malária consigo, pois já se registra muitos casos na região do Marauiá. “Vim de lá porque quero saúde para meu povo. Nessa assembleia não vim à toa, falo para meu irmão mais velho (Kona). Minha vontade é de morar na beira desse rio Marauiá com meu irmão. Por isso não quero continuar sofrer. Quero que todos me ouçam, porque sou o último grupo que vai descer até a margem do rio Marauiá. Vocês discutiram sobre educação e quero falar sobre isso também. Sou chefe e não tenho medo de falar. Vocês já conhecem o mundo dos brancos, e vocês os brancos, quero o apoio de vocês. Olho para minhas crianças e tenho compaixão para elas. Nós estamos dentro do mato, bem distantes do rio e nossa vontade é de voltar sempre aqui. Meu irmão mais velho está escutando, porque estamos morando muito distante há muitas doenças, queremos morar na beira do rio. Vocês meus parentes que nos convidaram para ficar mais perto, achamos bom, porque onde estamos não tem condições de atendimento. Por causa do convite, vamos descer. Por isso, não queremos demorar muito aonde estamos morando. Para ficarmos de boa saúde, quero que vocês mesmos nos ajudem. Antes de morar naquele local, tem montanhas muito altas. O caminho passa pelas montanhas e temos medo dessas montanhas e tem muitas doenças e queremos encontrar uma solução e nos aproximar de um atendimento. Se vocês dão a resposta positiva, não vamos demorar. Quero morar agora na beira do rio Marauiá onde quero morar feliz e de boa saúde. Vocês me avisam do que vocês decidirem e darem apoio. Somente isso”.

NOVOS PASSOS - A II Assembleia do povo Yanomami do Amazonas encerrou seus trabalhos, com um balanço muito positivo. As autoridades presentes da FUNAI, ICMBIO, SESAI, SEDUC e os parceiros do povo Yanomami puderam ouvir as reinvindicações das lideranças que assumem o protagonismo para a conquista e garantia dos seus direitos.

No início de ano 2012 vai ser composta uma delegação que já vai começar a organizar a III Assembleia do Povo Yanomami do Amazonas.

Para Genivaldo Baré, coordenador do departamento de Educação da FOIRN – Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, os Yanomami mostraram que estão bastante unidos e fortes para conquistar as melhorias no atendimento às suas comunidades. “Foi muito importante essa assembleia, mesmo sendo a segunda, a discursão foi bastante interessante. As decisões tomadas foram coerentes com o conhecimento das dificuldades. Tanto na educação, quanto na saúde, todos os assuntos foram situações reais que esse povo vive, avalio muito produtiva. O que resta é que as instituições que representam o governo e que apoiam os Yanomami, que tomem essas reinvindicações e que lutem para que sejam atendidas. Devemos estar mais presentes nas discursões junto com o povo Yanomami”, disse a liderança da FOIRN, organização de base da COIAB que atua na região.

Para Carlito Yanomami, liderança da comunidade do Ixima, a Assembleia foi um momento muito especial para o povo Yanomami, que se mostrou forte, unido. “O nosso pensamento que vários assuntos deveriam ser debatidos, pois é muito difícil a situação do povo Yanomami, a saúde principalmente. Organizamos devagar essa assembleia. Há muito tempo que não reunimos várias lideranças, foi muito bom unir o nosso povo para lutar junto. Foi muita discursão, muito desabafo, todos puderam saber das realidades um dos outros. As comunidades se juntaram mesmo. Ficamos muito felizes por lutar juntos. Foi importante a presença da COIAB, da FOIRN, das organizações fortes da Amazônia, que devem levar a mensagem dos Yanomami”, disse.

Os Yanomami conseguiram se unir para marcar um posicionamento frente às ameaças ao seu território. Mais do que isso, conseguiram vencer o clarão do dia que cegava todos e assim como Horonami, o grande herói do povo, trouxeram a noite para consagrar o espírito daqueles que lutam. Que os ensinamentos do Paricá e a oração dos pajés, continuem sendo a grande força que guia os discursos das lideranças Yanomami em defesa da grande floresta. AWEI!!



DAVI KOPENAWA – A fala do Grande Líder Yanomami

“A assembleia foi muito boa, fui convidado para participar e contar a luta em defesa do nosso povo, luto pelos Yanomami. Aqui é importante para conversar mais e falar com as comunidades que ficam longe um do outro, distante mesmo. A primeira vez que muitos estão aqui, sabendo como funciona a luta em defesa dos direitos. Estamos em defesa da nossa terra, dos nossos costumes, da nossa língua, é importante para o nosso futuro, que a próxima geração continue lutando para defender o direito a caça, ao trabalho, às festas, aos rituais, esse é o nosso costume. Cuidar da nossa floresta que é a prioridade para o povo Yanomami, prioridade a terra, o rio, a floresta como nasceu, como surgiu.

Para nós é preocupante que o Governo Federal fique sempre mexendo, fique perturbando sempre, vem invadir a nossa terra, invade para poder explorar mesmo. Por isso o movimento indígena precisa lutar mesmo, trocar ideias e explicar para os novos continuarem lutando. A terra é nossa mãe. Ela que cuida da gente, que deixa nascer, que deixa crescer, nos alimenta. Nós trabalhamos, lutamos, brigamos com político, fazendo documento para FUNAI, Ministério Público, Defesa, para que todos preservem a Amazônia. Ela é uma só para os Yanomami e para todos.

Ano que vem, vamos construir um grande xapono e comemorar 20 anos de homologação da Terra Indígena Yanomami. É uma grande conquista! Essa luta foi difícil, muita gente falando. Brigamos para ter o nosso território e viver em paz. Mesmo demarcada e homologada temos muitos problemas, a invasão dos garimpeiros e os pescadores, muita gente quer explorar e usar os recursos naturais. Os políticos querem aprovar a lei da mineração em nossos territórios. Tão continuando a invadir, mas vamos lutar também, ninguém vai ficar parado de cabeça baixa, sabemos que a invasão não vai acabar, nossa luta também não.

O governo Dilma tá lutando para usar a riqueza da terra e deixam entrar os invasores. Como na terra dos parentes lá em Belo Monte. É só o começo, a entrada do trabalho do Governo Dilma. Querem explorar mesmo, esse estrago, não confio muito nisso. Ela não tá respeitando a própria Constituição Federal.

Deixo uma mensagem para os povos indígenas, nós temos que juntar e ficar unido, fazer a força. A união é nossa arma para defender a nossa terra, a nossa floresta, os rios, os peixes, as caças, os nossos costumes”.

FOTOS E TEXTO: DIEGO JANATÃ

sexta-feira, 8 de abril de 2011

AMAZÔNIA MARANHENSE AMEAÇADA



A Ong Survival, divulgou um relatório da FUNAI feito em agosto do ano passado, que revela a destruição da Amazônia Maranhense, aonde mais de 30% de território indígena é devastado por madeireiros e criadores de gado, ocasionando uma grande tragédia ao povo Awá Guajá que tem parte de sua população vivendo de forma autônoma e livre nas matas daquele Estado, dependendo única e exclusivamente dos recursos naturais para a sua sobrevivência.

A população Awá-Guajá é de aproximadamente 400 indivíduos, incluindo os que vivem sem contato com a sociedade nacional. O povo vive nas Terras Indígenas Awá, Caru e Alto Turiaçu. Há relatos sobre a presença de grupos isolados transitando também na Terra Indígena Araribóia - território tradicional do povo Guajajara - na Reserva Biológica do Gurupi, na Terra Indígena Krikati, na Serra do Cipó, no Alto Guamá, na Serra da Desordem, Jararaca e Bandeira.

Esse povo está sendo massacrado por conta da atividade madeireira no estado do Maranhão que é o primeiro no ranking do desmatamento na região. A falta de fiscalização das autoridades, a omissão e até mesmo a conivência de gestores públicos, atrelados à indústria madeireira e ao agronegócio em geral, permite que 90% da madeira que abastece o mercado consumidor, seja oriundo de Terras Indígenas e áreas de conservação.

De acordo com Sonia Guajajara, vice coordenadora da COIAB, é importante que seja feito uma campanha conjunta de combate ao desmatamento na região. É preciso denunciar todos os envolvidos que são beneficiados com o desmatamento. “Para nós, povos indígenas, esta é uma situação alarmante. Estamos muito preocupados com o avanço do desmatamento na Amazônia. A pecuária dos grandes latifundiários, a soja dos estrangeiros, o eucalipto das siderúrgicas, são grandes males que vem castigando o Maranhão e os povos indígenas.
Os grandes projetos como a construção de rodovias e o Projeto Carajás são os responsáveis pelo genocídio praticado contra o povo Awá-Guajá”, revela a guerreira.
A liderança maranhense explica que essa ânsia pelo dinheiro, pelo progresso desvairado sem consciência à necessidade de termos a floresta viva, de pé, é um reflexo da tirania dos governos dos coronéis que há anos empobrece o povo maranhense.

TEXTO E FOTO: DIEGO JANATÃ

domingo, 3 de outubro de 2010

...Flores de Floripa...








Centro de Florianópolis, capital turística, fim de inverno. O inferno continua o mesmo para centenas de moradores de rua, iludidos com o exôdo em busca de emprego e melhores condições de vida. A maioria é vitimizada pela violência do crack e pela falta de oportunidades. As autoridades e os meios de comunicação divulgam em tom de terrorismo: Crack nem pensar! Entretanto, pelo fato de não pensarmos seriamente no assunto, o problema vai girando e se tornando cada vez pior. A guerra deve ser contra o crack, contra os traficantes, contra o vício. Infelizmente, a guerra crackista vem segregando os usuários, como se já não bastasse a segregação da própria pedra, estas pessoas são excluídas por uma sociedade hi-pó-crita, que não consegue separar o pó da poeira e nem enxerga que as vítimas do crack são os filhos de floripa. As flores também nascem na sarjeta.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O quinto ato de Melô do Bob na terra de Sagitarium Deliriuns


O gafanhoto é o camarão da terra seca
...
mesmo com o canto do Grill que canta além da cerca.
Sonha com meio kg de futuro incerto (não sai de perto).
Vira praga do Egito no momento certo
(Se mantém esperto. Se antena com a selva de contreto):
- Tenha pena desse desafeto !!
Diz ao feto da mãe que te pariu:
- Padece no paraíso a flor de maio que nunca abril. Entristece a de Lótus quem nunca viu!!!
A Fada Verde se balança deitada na rede...
Cansada não dança, pois do absinto tinha sede.
- Sinto sua lembrança, querida Leide.
Ressucito um ser instinto, recito um verso sucinto,
nos corredores desse labirinto...
Perdido no Labirinto, com um único gole do absinto.
A fumaça escapa dos labirintos de minha mão.
Põe a linha tênue que separa a loucura da Ação...a razão da Loaund cura!
Como num quarto de espelhos refletindo sua própria alma,
Subveste o trauma. Inverte na beleza da fauna.
Aflora a realeza do balé, de um guará ralé que voa por cima da mata,
desafiando o infinito céu, cinza cor de prata.
Abençoa o menino banzeiroo que a mãe cata,
com mil dedos certeiros de forma exata.
Lança a flecha de sagitário que o infinito vai romper.
Corrompe um digno ser. Signo escondindo num recinto de prazer...

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Povo Awá-Guajá: “Nós existimos”



Na região conhecida como Alto Turiaçu, no Noroeste Maranhense, mas um tanto da amazonia brasileira é destruída. Diariamente, caminhões e caminhões saem lotados da mata, roubando e assassinando os povos indígenas que sofrem com o drama da devastação da madeira dentro de seus territórios.

Na contramão dessas tragédias anunciadas, grupos de guerreiros deixam suas casas no seio da floresta para se encontrarem com os seus parentes. Em busca de aliados, o povo Awa Guajá sai da mata e com a cantoria dos karawaras, viajam para o céu e descobrem do alto um novo horizonte de destruição e aterrisam de volta com o grito: “Nós existimos”.

O Conselho Indigenista Missionário e o Povo Awá-Guajá, em parceria com a CNBB Regional Nordeste V, Diocese de Zé Doca, pastorais e movimentos sociais, realizaram um grande encontro denominado "Acampamento NÓS EXISTIMOS" TERRA E VIDA PARA OS CAÇADORES E COLETORES AWÁ-GUAJÁ.

O evento que aconteceu nos dia 01,02 e 03 de agosto na cidade de Zé Doca, localizada há 400 quilômetros de São Luís, também contou com a participação de lideranças indígenas de outras etnias como os Guajajara e os Ka’apor.

O Acampamento serviu de base para palestras e denúncias sobre a situação de invasões de Terras Indígenas no Brasil, em especial as do povo Awá, bem como outros informes sobre o atual momento do povo.

FUNAI tenta atrapalhar reencontro

O acampamento, a princípio, contaria com a presença dos representantes das 04 aldeias do povo Awá-Guajá: Tiracambu, Awá, Guajá e Juriti. De última hora a FUNAI, que seria a responsável pelo transporte dos indígenas da aldeia Juriti para o lugar do evento, alegou que não mandaria os índios e nem um representante do órgão, pois, segundo a FUNAI de Brasília, a cidade de Zé Doca estaria controlada por madeireiros e não oferecia segurança para os participantes. Entretantos, para os indígenas presentes, a FUNAI não participou pois não tem interesse em ajudar. “FUNAI tem é medo de índio”, revela Takaiju, liderança da aldeia Guajá.

O Acampamento é necessário para compreender e a apoiar as lutas dos Povos Indígenas, de maneira concreta, pela garantia e proteção de suas terras e por uma política indigenista voltada aos direitos, anseios, necessidades das comunidades indígenas; e as relações do “bem viver” estabelecidas pela maioria dos povos indígenas fundamentadas na reciprocidade entre as pessoas, na amizade fraterna, na convivência com outros seres da natureza e num profundo respeito pela terra.

O GRANDE ENCONTRO

Em um primeiro momento antes do Acampamento que aconteceu na Praça Matriz da cidade, os Awa Guajá das aldeias Tiracambu, Guajá e Awá se reuniram no Centro Diocesano de Zé Doca e celebraram com muita cantoria o reencontro dos parentes separados pelo contato. Em parceria com os Ka’apor, o duelo de cantadores se estendeu até altas hora, revelando uma grande harmonia entre esses povos.

Na manhã seguinte, os Awá se reuniram para traçarem estratégias para o Acampamento. Na pauta de discussões a questão da madeira foi a mais discutida, pois se trata da mesma realidade para todo o território Awá.

Itati, liderança da Aldeia Awá, falou a respeito da vida de seu povo, mostrou como vivem os awá. Os utensílios que utilizam. “Tudo isso aqui quem fez foi Awá, branco não deu nada pra índio. Eu acho muito bom”, orgulha-se a jovem liderança que também reclamou a ausência da FUNAI no encontro, mas destacou o apoio dos aliados. “Como vamos fazer para resolver nossos problemas ? O CIMI pode nos ajudar. Vamos nos organizar para nos encontrar outras vezes, dessa vez com os nossos parentes do Juriti.

Saulo Feitosa, secretário nacional do CImi, diz que o momento dos Awá é histórico e muito significativo. “vocês mostram que querem resolver seus problemas. Fiquei impressionado com a força da sua cultura, isso é um projeto de vida”. Comenta a respeito da dificuldade dos Awa deixarem as suas aldeias, as suas famílias e seus bichos. “É um esforço de vocês para mostrar para a população brasileira que o povo Awá Guajá existe”, afirma.

Madalena Borges, missionária do CIMI, se emociona ao falar do encontro, revela ser um sonho que está sendo realizado."Os Awá ainda vão conquistar muita coisa”, profetiza.

O ACAMPAMENTO

Na manhã do dia 02, os Awá Guajá saem em direção à Praça Matriz, aonde se realizou o Acampamento. Sob o olhar curioso da população local, os indígenas cruzam a praça entoando os cânticos dos karawaras.

Carlo Ellena, bispo da diocese de Zé Doca, foi o responsável pela abertura do evento, deu as boas vindas à todos os presentes. Na oportunidade ele destacou a preocupação da igreja com relação a situação dos povos indígenas, que é uma realidade de muita luta e resistência, lembrou que os povos indígenas estão presentes na mente e no coração da Igreja do regional e conhecem as dificuldades que os indígenas passam em suas aldeias.

”Eu fico muito feliz em encontrar vocês meus irmãos. Hoje é um dia muito importante e vocês devem expressar suas vontades, dificuldades e desejos”.

Don Xavier, presidente do Regional, leu para os participantes uma mensagem da XV Assembléia Regional de Pastoral da CNBB Nordeste V sobre a situação dos povos indígenas do maranhão. “Deixam-nos perplexos as intervenções do governo federal que em nome do progresso regional financiam hidrelétricas e outros projetos de grande impacto social e ambiental sobre as comunidades indígenas e seus territórios sem a devida consulta prevista inclusive pelo artigo 169 da Organização Internacional do Trabalho”.

Takaiju, liderança Awá comenta a relação do índio no mundo dos brancos e do branco no mundo indígena, que é a realidade da mata. Do respeito de cada um quando vai na casa do outro. “Nós chegamos na cidade e não roubamos nada. Não fazemos mal pra ninguém. Se tiver dinheiro, índio compra. O karaí chega na mata e corta madeira, rouba a mata da gente que somos os donos da terra. Parente não gosta disso”, afirma.

O jovem cacique da aldeia Awa, Manãxika, falou do seu avô, que não vive mais. “O branco veio para terra dos índios e colocaram roça. Branco botou roça dentro da terra e o madeireiro chegou também. Estamos aqui na cidade para mostrar que Awá existe. Eu sou Awá e estou aqui com os meus parentes. Venho mostrar que eu estou vivo e madeireiro não vai acabar com a gente”, afirma.

Tiparexa’a, liderança da aldeia Tiracambu fala que o branco entra em sua terra, porque branco não gosta de índio e nem da natureza. “Nós gostamos muito da terra, comemos de graça. Quando venho para a cidade tenho que comprar comida de branco”, diz.

A BUSCA DE ALIADOS

Para o combate aos madeireiros que devastam seus territórios e a retirada dos invasores, os Awá perceberam que é necessário muito apoio. As entidades presentes no evento e também os Ka’apor e os Guajajaras, firmaram o compromisso com a causa Awá, se mostraram parceiros para eventuais campanhas e outras manifestações de apoio. “É vergonhoso para o Governo Brasileiro que seja preciso os índios montarem um acampamento para provarem que existem. A Sociedade Maranhense de Direitos Humanos se coloca a disposição para trabalhar em parceria com o CIMI e os povos índígenas”, prometeu Vicente, representante da SMDH.

A línguista e professora da Universidade de Brasília, Marina Magalhães que trabalha com o povo awá, estudando a língua materna, destacou a importancia do encontro para o povo Awá e os considera seus professores na arte de viver em harmonia com a natureza. “Vocês podem contar com a gente, estou propondo um grupo de pesquisa e de apoio entre os estudantes da UNDB para contribuírem com o povo Awá”, disse.

De acordo com o professor István Varga, da Universidade Federal do Maranhão, boa parte da população sertaneja que é jogada contra os índios tem sangue indígena e não se dá conta disso. “Aqui na região do alto Turiaçu houve no passado aliança entre os negros quilombolas e as populações indígenas para controlarem o avanço das frentes agrícolas”, comentou.

Antonio Guajajara, da Aldeia Nova, no município de Arame, convidou a população não indígena presente à apoiar a luta dos Awá. “As pessoas da cidade de Zé Doca precisam apoiar os meus parentes. Eles são muito importantes, um dia vocês vão precisar deles”, pediu.

De acordo com cacique Ceron Ka’apor esse tipo de reunião é muito boa para os índios, pois têm a oportunidade de conhecer a história de outros povos. “Estamos aqui também junto com os parente Awá-Guajá, para dizer que do jeito que está é muito difícil. O problema da madeira é muito grave. Madeireiro quer destruir tudo. Não pode deixar. Lá em nossa aldeia não deixamos madeireiro entrar”, afirma.

Para Saulo Feitosa o Acampamento teve várias conquistas. A realização dele por si já é uma delas. Pois se trata de uma região de conflito. “Foi um evento importante para a mudança de paradigma da população local, pois existe no imaginário popular uma visão muito distorcida dos povos indígenas”, afirma Saulo, destacando a importância dos depoimentos das pessoas da paróquia se solidarizando com a luta do povo Awá. O secretário nacional do CIMI, destacou o enfoque interno do Acampamento, a articulação dos Awá com os outros povos.